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AUXÍLIO-DOENÇA. TRABALHO DURANTE A INCAPACIDADE. INCAPACIDADE COMPROVADA NA PERÍCIA MÉDICA. TERMO INICIAL DO BENEFÍCIO. DATA DO AJUIZAMENTO DA AÇÃO. TERMO FI...

Data da publicação: 22/12/2024, 21:52:42

PREVIDENCIÁRIO. AUXÍLIO-DOENÇA. TRABALHO DURANTE A INCAPACIDADE. POSSIBILIDADE. INCAPACIDADE COMPROVADA NA PERÍCIA MÉDICA. TERMO INICIAL DO BENEFÍCIO. DATA DO AJUIZAMENTO DA AÇÃO. TERMO FINAL DO BENEFÍCIO CONFORME PERÍCIA MÉDICA JUDICIAL. APELAÇÃO DO INSS DESPROVIDA. APELAÇÃO DA PARTE AUTORA DESPROVIDA. 1. Os requisitos indispensáveis para a concessão do benefício previdenciário de auxílio-doença ou aposentadoria por invalidez são: a) a qualidade de segurado; b) a carência de 12 (doze) contribuições mensais, salvo nas hipóteses previstas no art. 26, II, da Lei n. 8.213/91; c) a incapacidade parcial ou total e temporária (auxílio-doença) ou permanente e total (aposentadoria por invalidez) para atividade laboral. 2. No presente caso, a perícia médica judicial concluiu que a parte autora está acometida pelas enfermidades Transtorno Bipolar e Stress grave, e que as enfermidades ensejaram a incapacidade laboral total e temporária do requerente (ID 85985033 - Pág. 89 fl. 91). 3. O INSS alega falta de incapacidade laborativa da parte autora ao fundamento de que o apelado, ao tempo da incapacidade, estaria laborando. No tocante à possibilidade de recebimento de benefício por incapacidade durante período em que houve exercício de atividade remunerada, o Superior Tribunal de Justiça, no julgamento do Tema repetitivo 1013, firmou a seguinte tese: No período entre o indeferimento administrativo e a efetiva implantação de auxílio-doença ou de aposentadoria por invalidez, mediante decisão judicial, o segurado do RPGS tem direito ao recebimento conjunto das rendas do trabalho exercido, ainda que incompatível com sua incapacidade laboral, e do respectivo benefício previdenciário pago retroativamente. Assim, não há que se falar em ausência de incapacidade em face de labor concomitante, tampouco em desconto das parcelas relativas a este período. 4. O entendimento jurisprudencial é no sentido de que o termo inicial do benefício concedido por incapacidade é a data da cessação do pagamento anteriormente concedido ou a data do requerimento administrativo, utilizando-se a data da citação quando inexistentes tais hipóteses. No presente caso, o Juízo de origem fixou o termo de início do benefício na data do ajuizamento da ação. A parte autora apresentou o presente apelo, requerendo que a data de início do benefício seja fixada no dia em que seu auxílio-doença percebido administrativamente cessou. Verifica-se que o apelante percebeu auxílio-doença administrativo no período de 13/04/2018 a 28/06/2019, quando o benefício cessou (ID 85985033 - Pág. 62 fl. 64). Contudo, a perícia médica judicial concluiu que a data de início da incapacidade laboral do autor é 30/06/2020 (85985033 - Pág. 89 fl. 91). Assim, quando houve a cessação do benefício administrativo (28/06/2019), a parte autora não possuía incapacidade laboral, conforme atesta o laudo médico pericial judicial. Dessa forma, o termo inicial do benefício concedido judicialmente não pode ser fixado na data de cessação do benefício administrativo. No presente caso, também inexiste data de novo requerimento administrativo para concessão de benefício por incapacidade após a data de início da incapacidade laborativa do autor. Assim, deve ser mantida a sentença do Juízo de origem que fixou o termo inicial do benefício no ajuizamento da ação, pois indevida a reforma in pejus da sentença. 5. Relativamente à data de cessação do benefício (DCB), a Lei n. 13.457/2017 acrescentou os §§ 8º e 9º ao art. 60 da Lei n. 8.213/91 Alta Programada, determinando que: Sempre que possível, o ato de concessão ou de reativação de auxílio-doença, judicial ou administrativo, deverá fixar o prazo estimado para a duração do benefício (§8º); e que Na ausência de fixação do prazo de que trata o § 8º deste artigo, o benefício cessará após o prazo de cento e vinte dias, contado da data de concessão ou de reativação do auxílio-doença, exceto se o segurado requerer a sua prorrogação perante o INSS, na forma do regulamento, observado o disposto no art. 62 desta Lei. (§9º). 6. Na presente lide, o Juízo de origem fixou o prazo de duração do benefício em 06 (seis) meses contados da data da prolação da sentença. Contudo, o INSS apelou requerendo que a data de cessação do benefício seja fixada conforme o prazo estipulado pela perícia médica judicial. Analisando os autos, verifica-se que o perito médico judicial estipulou o prazo de recuperação do autor em 60 (sessenta) dias contados da data da perícia médica judicial que ocorrera em 30/06/2020 (ID 85985033 - Pág. 90 fl. 92). Contudo, diante do tempo já transcorrido e da dificuldade de se efetuar perícia para aferir se a incapacidade subsistiu além dessa data, convém manter o termo final definido na sentença. 7. As parcelas vencidas devem ser acrescidas de correção monetária pelo INPC e juros moratórios nos termos do Manual de Cálculos da Justiça Federal, que se encontra atualizado nos termos do julgamento proferido pelo Supremo Tribunal Federal no Recurso Extraordinário nº 870.947-SE em sede de repercussão geral (Tema 810) e pelo Superior Tribunal de Justiça no REsp 1.495.146/MG (Tema 905). 8. Honorários advocatícios majorados na fase recursal em R$2.000,00 (dois mil reais), além do montante já fixado pelo Juízo de origem (art. 85, §11, CPC). 9. Apelação do INSS desprovida. Apelação da parte autora desprovida. Ex officio, altero os índices de juros de mora e correção monetária, nos termos acima explicitados. (TRF 1ª Região, PRIMEIRA TURMA, APELAÇÃO CIVEL (AC) - 1026980-74.2020.4.01.9999, Rel. DESEMBARGADOR FEDERAL MARCELO ALBERNAZ, julgado em 19/04/2024, DJEN DATA: 19/04/2024)

Brasão Tribunal Regional Federal
JUSTIÇA FEDERAL
Tribunal Regional Federal da 1ª Região

PROCESSO: 1026980-74.2020.4.01.9999  PROCESSO REFERÊNCIA: 7001078-02.2020.8.22.0007
CLASSE: APELAÇÃO CÍVEL (198)

POLO ATIVO: JEAN CLEYDSON GADINE e outros
REPRESENTANTE(S) POLO ATIVO: SUELY MARIA RODRIGUES FERRO - RO2961
POLO PASSIVO:JEAN CLEYDSON GADINE e outros
REPRESENTANTE(S) POLO PASSIVO: SUELY MARIA RODRIGUES FERRO - RO2961

RELATOR(A):MARCELO VELASCO NASCIMENTO ALBERNAZ


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PODER JUDICIÁRIO
Tribunal Regional Federal da 1ª Região
Gab. 03 - DESEMBARGADOR FEDERAL MARCELO ALBERNAZ
Processo Judicial Eletrônico


APELAÇÃO CÍVEL (198) 1026980-74.2020.4.01.9999

APELANTE: JEAN CLEYDSON GADINE, INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSS

Advogado do(a) APELANTE: SUELY MARIA RODRIGUES FERRO - RO2961

APELADO: JEAN CLEYDSON GADINE, INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSS

Advogado do(a) APELADO: SUELY MARIA RODRIGUES FERRO - RO2961
 


RELATÓRIO

O EXMO. SR. DESEMBARGADOR FEDERAL MARCELO ALBERNAZ (RELATOR):

No presente caso, ambas as partes apelaram da r. sentença proferida pelo Juízo a quo, que julgou procedente o pedido da parte autora, concedendo o benefício auxílio-doença com termo inicial do benefício fixado na data do ajuizamento da presente ação com a duração de 60 (sessenta) dias.

O autor, em sua apelação, deseja que o termo inicial do benefício judicial seja fixado na data da cessação do benefício administrativo anteriormente percebido. O INSS não apresentou contrarrazões.

O INSS, em suas razões recursais, postula a reforma da sentença para que sejam improvidos os pedidos do autor constantes da exordial. A parte autora apresentou contrarrazões.                       

É o relatório.

Desembargador Federal MARCELO ALBERNAZ
Relator


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PODER JUDICIÁRIO
Tribunal Regional Federal da 1ª Região
Gab. 03 - DESEMBARGADOR FEDERAL MARCELO ALBERNAZ
Processo Judicial Eletrônico


APELAÇÃO CÍVEL (198) 1026980-74.2020.4.01.9999

APELANTE: JEAN CLEYDSON GADINE, INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSS

Advogado do(a) APELANTE: SUELY MARIA RODRIGUES FERRO - RO2961

APELADO: JEAN CLEYDSON GADINE, INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSS

Advogado do(a) APELADO: SUELY MARIA RODRIGUES FERRO - RO2961


VOTO

O EXMO. SR. DESEMBARGADOR FEDERAL MARCELO ALBERNAZ (RELATOR):

Preliminarmente, consigno que o recurso preenche os requisitos subjetivos e objetivos de admissibilidade.

Mérito

Os requisitos indispensáveis para a concessão do benefício previdenciário de auxílio-doença ou aposentadoria por invalidez são: a) a qualidade de segurado; b) a carência de 12 (doze) contribuições mensais, salvo nas hipóteses previstas no art. 26, II, da Lei n. 8.213/91; c) a incapacidade parcial ou total e temporária (auxílio-doença) ou permanente e total (aposentadoria por invalidez) para atividade laboral.   

Da incapacidade da parte autora

A controvérsia cinge-se à comprovação da incapacidade laboral para os fins de concessão de auxílio-doença/aposentadoria por invalidez.

No presente caso, a perícia médica judicial concluiu que a parte autora está acometida pelas enfermidades Transtorno Bipolar e Stress grave, e que as enfermidades ensejaram a incapacidade laboral total e temporária do requerente (ID 85985033 - Pág. 89 – fl. 91).

O expert realizou a perícia médica considerando também todos os documentos anexos aos autos, atestados e laudos médicos, bem como os exames realizados pelo autor. 

Importante destacar que, o perito médico judicial é profissional equidistante do interesse dos litigantes, efetuando uma avaliação eminentemente técnica.

Desse modo, o laudo produzido pelo expert qualifica-se pela imparcialidade, devendo ser priorizado/privilegiado ao juntado pelas partes.

Eventual desqualificação da perícia realizada judicialmente demanda apresentação de prova robusta da incorreção do parecer técnico do profissional nomeado, de forma que meras alegações genéricas não maculam a conclusão do perito e são insuficientes para sua anulação.

Nos presentes autos, não constam provas capazes de infirmar o laudo médico pericial judicial.

Do trabalho durante a incapacidade

O INSS alega falta de incapacidade laborativa da parte autora ao fundamento de que o apelado, ao tempo da incapacidade, estaria laborando.

No tocante a possibilidade de recebimento de benefício por incapacidade durante período em que houve exercício de atividade remunerada, o Superior Tribunal de Justiça, no julgamento do Tema repetitivo 1013, firmou a seguinte tese:

“No período entre o indeferimento administrativo e a efetiva implantação de auxílio-doença ou de aposentadoria por invalidez, mediante decisão judicial, o segurado do RPGS tem direito ao recebimento conjunto das rendas do trabalho exercido, ainda que incompatível com sua incapacidade laboral, e do respectivo benefício previdenciário pago retroativamente”.    

Precedente: 

PREVIDENCIÁRIO. PROCESSUAL CIVIL. AUXÍLIO-DOENÇA. INCAPACIDADE CONSTATADA NA PERÍCIA. RECEBIMENTO CONJUNTO COM A RENDA DE TRABALHO. TESE DEFINIDA NO TEMA 1013. APELAÇÃO NÃO PROVIDA. 1. Os requisitos indispensáveis para a concessão do benefício previdenciário de auxílio-doença ou aposentadoria por invalidez são: a) a qualidade de segurado; b) a carência de 12 (doze) contribuições mensais, salvo nas hipóteses previstas no art. 26, II, da Lei n. 8.213/91; c) a incapacidade parcial ou total e temporária (auxílio-doença) ou permanente e total (aposentadoria por invalidez) para atividade laboral. 2. No CNIS juntado aos autos, ID: 112455097, pág. 20, consta que a parte autora esteve empregada de abril/2014 a junho/2019, tendo recebido auxílio-doença de março/2019 a abril/2019. 3. O laudo pericial concluiu que a autora esteve incapacitada, total e temporariamente, de fevereiro/2019 a junho/2019. 4. Portanto, faz jus ao recebimento de auxílio-doença, desde a cessação do benefício, nos termos da sentença. 5. No tocante a possibilidade de recebimento de benefício por incapacidade durante período em que houve exercício de atividade remunerada, o Superior Tribunal de Justiça, no julgamento do Tema repetitivo 1013, firmou a seguinte tese: No período entre o indeferimento administrativo e a efetiva implantação de auxílio-doença ou de aposentadoria por invalidez, mediante decisão judicial, o segurado do RPGS tem direito ao recebimento conjunto das rendas do trabalho exercido, ainda que incompatível com sua incapacidade laboral, e do respectivo benefício previdenciário pago retroativamente. 6. Honorários advocatícios majorados em um ponto percentual sobre o valor arbitrado na origem, conforme previsão do art. 85, §11, do CPC/2015. 7. Apelação do INSS não provida. (AC 1009091-73.2021.4.01.9999, DESEMBARGADOR FEDERAL MORAIS DA ROCHA, TRF1 - PRIMEIRA TURMA, PJe 19/09/2023 PAG.)

Por todo o exposto, não há que se falar em ausência de incapacidade em face de labor concomitante, tampouco em desconto das parcelas relativas a este período.

Do termo inicial do benefício

O entendimento jurisprudencial é no sentido de que o termo inicial do benefício concedido por incapacidade é a data da cessação do pagamento anteriormente concedido ou a data do requerimento administrativo, utilizando-se a data da citação quando inexistentes tais hipóteses.

No presente caso, o Juízo de origem fixou o termo de início do benefício na data do ajuizamento da ação. A parte autora apresentou o presente apelo, requerendo que a data de início do benefício seja fixada no dia em que seu auxílio-doença percebido administrativamente cessou.

Verifica-se que o apelante percebeu auxílio-doença administrativo no período de 13/04/2018 a 28/06/2019, quando o benefício cessou (ID 85985033 - Pág. 62 – fl. 64).

Contudo, a perícia médica judicial concluiu que a data de início da incapacidade laboral do autor é 30/06/2020 (85985033 - Pág. 89 – fl. 91).

Assim, quando houve a cessação do benefício administrativo (28/06/2019), a parte autora não possuía incapacidade laboral, conforme atesta o laudo médico pericial judicial. Dessa forma, o termo inicial do benefício concedido judicialmente não pode ser fixado na data de cessação do benefício administrativo.

No presente caso, também inexiste data de novo requerimento administrativo para concessão de benefício por incapacidade após a data de início da incapacidade laborativa do autor.

Assim, deve ser mantida a sentença do Juízo de origem que fixou o termo inicial do benefício no ajuizamento da ação, pois indevida a reforma in pejus da sentença.

Precedente do STJ aplicável à hipótese dos autos:

AGRAVO INTERNO NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. PREVIDENCIÁRIO. AUXÍLIO-DOENÇA. TERMO INICIAL DO BENEFÍCIO. DATA DO REQUERIMENTO ADMINISTRATIVO. JURISPRUDÊNCIA DO STJ.

1. O entendimento do Tribunal de origem não está em consonância com a orientação do STJ de que o termo inicial do pagamento do auxílio-doença é a data da cessação do pagamento do benefício anteriormente concedido ou a data do requerimento administrativo. Quando inexistentes ambas as situações anteriormente referidas, o termo inicial do pagamento do auxílio-doença será a data da citação da autarquia.

2. Ao contrário do que faz crer a parte agravante, não incide o óbice da Súmula 7/STJ em relação ao Recurso Especial interposto pela agravada. Isso porque o decisum ora atacado não adentrou matéria fática.

3. Agravo Interno não provido.

(AgInt no AREsp n. 1.961.174/SP, relator Ministro Herman Benjamin, Segunda Turma, julgado em 27/6/2022, DJe de 29/6/2022.) 

Do termo final do benefício

Relativamente à data de cessação do benefício (DCB), a Lei n. 13.457/2017 acrescentou os §§ 8º e 9º ao art. 60 da Lei n. 8.213/91 – “Alta Programada”, determinando que: “Sempre que possível, o ato de concessão ou de reativação de auxílio-doença, judicial ou administrativo, deverá fixar o prazo estimado para a duração do benefício” (§8º); e que “Na ausência de fixação do prazo de que trata o § 8º deste artigo, o benefício cessará após o prazo de cento e vinte dias, contado da data de concessão ou de reativação do auxílio-doença, exceto se o segurado requerer a sua prorrogação perante o INSS, na forma do regulamento, observado o disposto no art. 62 desta Lei.” (§9º).

Assim, nos termos da nova sistemática, na concessão ou reativação do auxílio-doença, seja judicial ou administrativa, por se tratar de um benefício por incapacidade temporária, deve ser estipulado prazo para a sua duração; se não houver estipulação, a própria lei estabelece o prazo de 120 (cento e vinte) dias, findo o qual o benefício será cancelado (art. 60, § 9º, da Lei n. 8.213/91), salvo se houver pedido de prorrogação pelo segurado que entender que ainda persiste a situação de incapacidade, o que assegurará a manutenção do seu pagamento até a reapreciação administrativa, após a realização de novo exame pericial.

Diante disso, não mais se mostra legítima a imposição de realização de prévia perícia administrativa para a cessação do benefício de auxílio-doença, pois o direito do segurado que ainda se encontre incapacitado para o trabalho está assegurado quando a própria lei lhe possibilita requerer a prorrogação do benefício dentro do prazo de 15 (quinze) dias antes da sua cessação, garantindo-se a manutenção da prestação mensal até a nova avaliação administrativa. Na ausência do pedido de prorrogação, a autarquia poderá cessar o benefício ao final da data fixada, seja judicial ou administrativamente.

Na presente lide, o Juízo de origem fixou o prazo de duração do benefício em 06 (seis) meses contados da data da prolação da sentença. Contudo, o INSS apelou requerendo que a data de cessação do benefício seja fixada conforme o prazo estipulado pela perícia médica judicial.

Analisando os autos, verifica-se que o perito médico judicial estipulou o prazo de recuperação do autor em 60 (sessenta) dias contados da data da perícia médica judicial que ocorrera em 30/06/2020 (ID 85985033 - Pág. 90 – fl. 92).

Contudo, diante do tempo já transcorrido e da dificuldade de se efetuar perícia para aferir se a incapacidade subsistiu além dessa data, convém manter o termo final definido na sentença.

Consectários legais

Dos juros moratórios e correções monetárias

As parcelas vencidas devem ser acrescidas de correção monetária pelo INPC e juros moratórios nos termos do Manual de Cálculos da Justiça Federal, que se encontra atualizado nos termos do julgamento proferido pelo Supremo Tribunal Federal no Recurso Extraordinário nº 870.947-SE em sede de repercussão geral (Tema 810) e pelo Superior Tribunal de Justiça no REsp 1.495.146/MG (Tema 905).           

Eventuais valores pagos a título de tutela provisória estarão sujeitos a restituição, conforme Tema 692/STJ: “A reforma da decisão que antecipa os efeitos da tutela final obriga o autor da ação a devolver os valores dos benefícios previdenciários ou assistenciais recebidos, o que pode ser feito por meio de desconto em valor que não exceda 30% (trinta por cento) da importância de eventual benefício que ainda lhe estiver sendo pago”.

Majoro os honorários advocatícios na fase recursal em R$2.000,00 (dois mil reais), além do montante já fixado pelo Juízo de origem (art. 85, §11, CPC).

CONCLUSÃO

Pelo exposto, nego provimento à apelação do INSS e nego provimento à apelação do autor.

Ex officio, altero os índices de juros de mora e correção monetária, nos termos acima explicitados. 

É como voto.

Desembargador Federal MARCELO ALBERNAZ
Relator




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Tribunal Regional Federal da 1ª Região
Gab. 03 - DESEMBARGADOR FEDERAL MARCELO ALBERNAZ
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APELAÇÃO CÍVEL (198) 1026980-74.2020.4.01.9999

APELANTE: JEAN CLEYDSON GADINE, INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSS

Advogado do(a) APELANTE: SUELY MARIA RODRIGUES FERRO - RO2961

APELADO: JEAN CLEYDSON GADINE, INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSS
Advogado do(a) APELADO: SUELY MARIA RODRIGUES FERRO - RO2961


EMENTA

PREVIDENCIÁRIO. AUXÍLIO-DOENÇA. TRABALHO DURANTE A INCAPACIDADE. POSSIBILIDADE. INCAPACIDADE COMPROVADA NA PERÍCIA MÉDICA. TERMO INICIAL DO BENEFÍCIO. DATA DO AJUIZAMENTO DA AÇÃO. TERMO FINAL DO BENEFÍCIO CONFORME PERÍCIA MÉDICA JUDICIAL. APELAÇÃO DO INSS DESPROVIDA. APELAÇÃO DA PARTE AUTORA DESPROVIDA.

1. Os requisitos indispensáveis para a concessão do benefício previdenciário de auxílio-doença ou aposentadoria por invalidez são: a) a qualidade de segurado; b) a carência de 12 (doze) contribuições mensais, salvo nas hipóteses previstas no art. 26, II, da Lei n. 8.213/91; c) a incapacidade parcial ou total e temporária (auxílio-doença) ou permanente e total (aposentadoria por invalidez) para atividade laboral.   

2. No presente caso, a perícia médica judicial concluiu que a parte autora está acometida pelas enfermidades Transtorno Bipolar e Stress grave, e que as enfermidades ensejaram a incapacidade laboral total e temporária do requerente (ID 85985033 - Pág. 89 – fl. 91).

3. O INSS alega falta de incapacidade laborativa da parte autora ao fundamento de que o apelado, ao tempo da incapacidade, estaria laborando. No tocante à possibilidade de recebimento de benefício por incapacidade durante período em que houve exercício de atividade remunerada, o Superior Tribunal de Justiça, no julgamento do Tema repetitivo 1013, firmou a seguinte tese: “No período entre o indeferimento administrativo e a efetiva implantação de auxílio-doença ou de aposentadoria por invalidez, mediante decisão judicial, o segurado do RPGS tem direito ao recebimento conjunto das rendas do trabalho exercido, ainda que incompatível com sua incapacidade laboral, e do respectivo benefício previdenciário pago retroativamente”. Assim, não há que se falar em ausência de incapacidade em face de labor concomitante, tampouco em desconto das parcelas relativas a este período.

4. O entendimento jurisprudencial é no sentido de que o termo inicial do benefício concedido por incapacidade é a data da cessação do pagamento anteriormente concedido ou a data do requerimento administrativo, utilizando-se a data da citação quando inexistentes tais hipóteses. No presente caso, o Juízo de origem fixou o termo de início do benefício na data do ajuizamento da ação. A parte autora apresentou o presente apelo, requerendo que a data de início do benefício seja fixada no dia em que seu auxílio-doença percebido administrativamente cessou. Verifica-se que o apelante percebeu auxílio-doença administrativo no período de 13/04/2018 a 28/06/2019, quando o benefício cessou (ID 85985033 - Pág. 62 – fl. 64). Contudo, a perícia médica judicial concluiu que a data de início da incapacidade laboral do autor é 30/06/2020 (85985033 - Pág. 89 – fl. 91). Assim, quando houve a cessação do benefício administrativo (28/06/2019), a parte autora não possuía incapacidade laboral, conforme atesta o laudo médico pericial judicial. Dessa forma, o termo inicial do benefício concedido judicialmente não pode ser fixado na data de cessação do benefício administrativo. No presente caso, também inexiste data de novo requerimento administrativo para concessão de benefício por incapacidade após a data de início da incapacidade laborativa do autor. Assim, deve ser mantida a sentença do Juízo de origem que fixou o termo inicial do benefício no ajuizamento da ação, pois indevida a reforma in pejus da sentença.

5. Relativamente à data de cessação do benefício (DCB), a Lei n. 13.457/2017 acrescentou os §§ 8º e 9º ao art. 60 da Lei n. 8.213/91 – “Alta Programada”, determinando que: “Sempre que possível, o ato de concessão ou de reativação de auxílio-doença, judicial ou administrativo, deverá fixar o prazo estimado para a duração do benefício” (§8º); e que “Na ausência de fixação do prazo de que trata o § 8º deste artigo, o benefício cessará após o prazo de cento e vinte dias, contado da data de concessão ou de reativação do auxílio-doença, exceto se o segurado requerer a sua prorrogação perante o INSS, na forma do regulamento, observado o disposto no art. 62 desta Lei.” (§9º).

6. Na presente lide, o Juízo de origem fixou o prazo de duração do benefício em 06 (seis) meses contados da data da prolação da sentença. Contudo, o INSS apelou requerendo que a data de cessação do benefício seja fixada conforme o prazo estipulado pela perícia médica judicial. Analisando os autos, verifica-se que o perito médico judicial estipulou o prazo de recuperação do autor em 60 (sessenta) dias contados da data da perícia médica judicial que ocorrera em 30/06/2020 (ID 85985033 - Pág. 90 – fl. 92). Contudo, diante do tempo já transcorrido e da dificuldade de se efetuar perícia para aferir se a incapacidade subsistiu além dessa data, convém manter o termo final definido na sentença.

7. As parcelas vencidas devem ser acrescidas de correção monetária pelo INPC e juros moratórios nos termos do Manual de Cálculos da Justiça Federal, que se encontra atualizado nos termos do julgamento proferido pelo Supremo Tribunal Federal no Recurso Extraordinário nº 870.947-SE em sede de repercussão geral (Tema 810) e pelo Superior Tribunal de Justiça no REsp 1.495.146/MG (Tema 905).  

8. Honorários advocatícios majorados na fase recursal em R$2.000,00 (dois mil reais), além do montante já fixado pelo Juízo de origem (art. 85, §11, CPC).

9. Apelação do INSS desprovida. Apelação da parte autora desprovida. Ex officio, altero os índices de juros de mora e correção monetária, nos termos acima explicitados. 

A C Ó R D Ã O

Decide a Primeira Turma do Tribunal Regional Federal da 1ª Região, à unanimidade, negar provimento à apelação do INSS e negar provimento à apelação da parte autora, nos termos do voto do Relator.

Brasília/DF.

Desembargador Federal MARCELO ALBERNAZ
Relator

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